PORQUE VEMOS O PIB COM (-3%) A (-4%)
ESTE ANO, E UMA INFLAÇÃO BEIRANDO OS 12%
Na crise de 1929, numa sombria manhã, o Brasil remetia para a Inglaterra
sua última reserva de ouro, para acalmar o clamor dos credores, especialmente
do Banco dos Rothschild. No navio ancorado no Rio de Janeiro
foram embarcadas cerca de 2.700 barras de ouro no valor de £ 4.375.890 do estoque do Banco do Brasil
mais £ 3.164.358 da Caixa de Estabilização (*),
somando £ 7.541.238 que deixaram a zero o lastro
ouro que garantia menos de 3% da nossa dívida externa do £ 262,5 milhões. Estava instalada uma
situação de crise na economia brasileira.
Em 1983, o produto da campanha “Ouro para o bem do Brasil”, lançada em
1964, foi transformado em barras no valor de US$ 6,43 milhões, que serviram
para atenuar a dívida pública do país.
Mal comparando, hoje o
ministro Joaquim Levy ainda se encontra na fase de orçar o conserto do desastre
provocado pela política econômica de 2014, que por vez refletiu os maus momentos
de 2013.
Por mais que se esforce
pela aprovação de medidas ajustadoras do desajuste fiscal que herdou de Guido
Mantega, ainda não consegue passar confiança total de que as
propostas corretivas serão aprovadas pelo Congresso e – muito mais que isso –
obedecidas pela presidente Dilma Rousseff.
As últimas avaliações de
desempenho da economia já projetam uma inflação em torno dos 8% (está chegando
a isso desde já) e uma redução de 0,5% no produto.
Resta evidente que estas projeções
assentam numa progressão otimista das medidas de correção que, em
certos casos, ainda vigoram.
Infelizmente, não vemos as
coisas desta forma. As avarias são por demais severas, para serem consertadas em
tempo, e elas apontam para consequências mais sérias do que uma pequena redução
no PIB nacional. Quem efetivamente precisa desses dados para seu planejamento
estratégico faria melhor se projetasse, para este difícil 2015, uma perda no
produto de (-3%) a (-4%), e uma inflação rodeando, implacável, a casa dos 11% a
12%. O PIB da indústria em nada colaborará para atenuar esta queda, e deve
apresentar uma perda ao redor dos (-4%) a (-5%).
Há variáveis que dão lógica
a essas expectativas. A taxa de juro primário (SELIC) pode chegar aos 13,5% ao
ano dentro em breve, encarecendo cada vez mais o carregamento da dívida
pública. O custo do governo mantém-se insuportavelmente alto, sem sinais de que vai ser contido. O crescimento da economia dos Estados Unidos já é uma realidade, e seus reflexos se fazem sentir em todo o mundo. Espera-se, para qualquer momento, a mudança para maior nos juros
básicos dos Estados Unidos (uma variação de + 0,5% por lá é altamente
significativa e tem repercussão mundial), ainda estamos com nossas contas
nacionais comprometidas com fraco desempenho em termos de balança de
pagamentos, e qualquer efeito positivo de um improvável e inesperado aumento na
taxa de investimento só será sentido em 2016 (lembrem-se que já transcorreu um
dos quatro trimestres de 2015).
Não obstante, nos propomos
a rever nossa estimativa se tivermos em curto espaço de tempo um novo
presidente, rodeado por uma grande coalizão, bancando uma situação excepcional
de governabilidade, que desperte nova vitalidade na economia.
A nossa “crise de PIB”
sugere que possamos reviver o começo e o final dos anos 1980:
- Em 1981, nosso PIB foi negativo em 4,3%, como
consequência do combate à inflação de 1980, quando se prefixou as
correções cambial e monetária em torno da metade da inflação do ano,
acompanhada de juros externos em situação de pico, além do segundo oil-shock de 1979, até então
causando estragos;
- Em 1990, o ano I do Plano Collor resultou numa
troca de denominação de moeda com abate de 1.000 por 1, seguida – de surpresa
– pelo confisco da poupança financeira nacional pelo prazo de dezoito
meses, ocasionando sérios problemas de liquidez e desorientando por
completo a atividade econômica do país.
Nos últimos 100 anos, em
outras ocasiões a performance da
economia brasileira sofreu reduções, quase sempre por má condução da
administração pública federal. Como recordação, registramos que:
Ano
|
Variação do PIB
|
Comentários
|
1983
|
-2,9%
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Mantiveram-se os desequilíbrios
estruturais observados em 1981, com alto endividamento num cenário de juros
internacionais muito além do razoável
|
1942
|
-2,7%
|
Época de guerra mundial, com forte
retração na demanda externa, uma queda recorde nas taxas de consumo interno,
nos Estados Unidos
|
1931
|
-3,3%
|
Como reflexo da crise econômica
mundial, desde outubro de 1929.
|
(*) Tendo
Getúlio Vargas como ministro da Fazenda, a Caixa de Estabilização foi criada
com a finalidade de recolher ouro em barra ou amoedado, que
era trocado por notas de igual valor ao metal entregue, dentro do
propósito de realizar uma reforma monetária. Era uma tentativa do Governo de
promover uma reforma monetária que possibilitasse a conversibilidade em ouro de
todo o papel-moeda em circulação, viabilizando a criação de uma nova moeda, o
Cruzeiro (criada, afinal, apenas em 1942).
Já
com Getúlio Vargas presidente da República, a Caixa foi extinta em 1930, quando
seus objetivos fracassaram.
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