sábado, 28 de março de 2015




PORQUE VEMOS O PIB COM (-3%) A (-4%)
ESTE ANO, E UMA INFLAÇÃO BEIRANDO OS 12%

Na crise de 1929, numa sombria manhã, o Brasil remetia para a Inglaterra sua última reserva de ouro, para acalmar o clamor dos credores, especialmente do Banco dos Rothschild. No navio ancorado no Rio de Janeiro foram embarcadas cerca de 2.700 barras de ouro no valor de £ 4.375.890 do estoque do Banco do Brasil mais £ 3.164.358 da Caixa de Estabilização (*), somando £ 7.541.238 que deixaram a zero o lastro ouro que garantia menos de 3% da nossa dívida externa do £ 262,5 milhões. Estava instalada uma situação de crise na economia brasileira.
Em 1983, o produto da campanha “Ouro para o bem do Brasil”, lançada em 1964, foi transformado em barras no valor de US$ 6,43 milhões, que serviram para atenuar a dívida pública do país.
Mal comparando, hoje o ministro Joaquim Levy ainda se encontra na fase de orçar o conserto do desastre provocado pela política econômica de 2014, que por vez refletiu os maus momentos de 2013.
Por mais que se esforce pela aprovação de medidas ajustadoras do desajuste fiscal que herdou de Guido Mantega, ainda não consegue passar confiança total de que as propostas corretivas serão aprovadas pelo Congresso e – muito mais que isso – obedecidas pela presidente Dilma Rousseff.
As últimas avaliações de desempenho da economia já projetam uma inflação em torno dos 8% (está chegando a isso desde já) e uma redução de 0,5% no produto.
Resta evidente que estas projeções assentam numa progressão otimista das medidas de correção que, em certos casos, ainda vigoram.
Infelizmente, não vemos as coisas desta forma. As avarias são por demais severas, para serem consertadas em tempo, e elas apontam para consequências mais sérias do que uma pequena redução no PIB nacional. Quem efetivamente precisa desses dados para seu planejamento estratégico faria melhor se projetasse, para este difícil 2015, uma perda no produto de (-3%) a (-4%), e uma inflação rodeando, implacável, a casa dos 11% a 12%. O PIB da indústria em nada colaborará para atenuar esta queda, e deve apresentar uma perda ao redor dos (-4%) a (-5%).
Há variáveis que dão lógica a essas expectativas. A taxa de juro primário (SELIC) pode chegar aos 13,5% ao ano dentro em breve, encarecendo cada vez mais o carregamento da dívida pública. O custo do governo mantém-se insuportavelmente alto, sem sinais de que vai ser contido. O crescimento da economia dos Estados Unidos já é uma realidade, e seus reflexos se fazem sentir em todo o mundo. Espera-se, para qualquer momento, a mudança para maior nos juros básicos dos Estados Unidos (uma variação de + 0,5% por lá é altamente significativa e tem repercussão mundial), ainda estamos com nossas contas nacionais comprometidas com fraco desempenho em termos de balança de pagamentos, e qualquer efeito positivo de um improvável e inesperado aumento na taxa de investimento só será sentido em 2016 (lembrem-se que já transcorreu um dos quatro trimestres de 2015).
Não obstante, nos propomos a rever nossa estimativa se tivermos em curto espaço de tempo um novo presidente, rodeado por uma grande coalizão, bancando uma situação excepcional de governabilidade, que desperte nova vitalidade na economia.
A nossa “crise de PIB” sugere que possamos reviver o começo e o final dos anos 1980:
  • Em 1981, nosso PIB foi negativo em 4,3%, como consequência do combate à inflação de 1980, quando se prefixou as correções cambial e monetária em torno da metade da inflação do ano, acompanhada de juros externos em situação de pico, além do segundo oil-shock de 1979, até então causando estragos;
  • Em 1990, o ano I do Plano Collor resultou numa troca de denominação de moeda com abate de 1.000 por 1, seguida – de surpresa – pelo confisco da poupança financeira nacional pelo prazo de dezoito meses, ocasionando sérios problemas de liquidez e desorientando por completo a atividade econômica do país.
Nos últimos 100 anos, em outras ocasiões a performance da economia brasileira sofreu reduções, quase sempre por má condução da administração pública federal. Como recordação, registramos que:
Ano
Variação do PIB
Comentários
1983
-2,9%
Mantiveram-se os desequilíbrios estruturais observados em 1981, com alto endividamento num cenário de juros internacionais muito além do razoável
1942
-2,7%
Época de guerra mundial, com forte retração na demanda externa, uma queda recorde nas taxas de consumo interno, nos Estados Unidos
1931
-3,3%
Como reflexo da crise econômica mundial, desde outubro de 1929.

 (*) Tendo Getúlio Vargas como ministro da Fazenda, a Caixa de Estabilização foi criada com a finalidade de recolher ouro em barra ou amoedado, que era trocado por notas de igual valor ao metal entregue, dentro do propósito de realizar uma reforma monetária. Era uma tentativa do Governo de promover uma reforma monetária que possibilitasse a conversibilidade em ouro de todo o papel-moeda em circulação, viabilizando a criação de uma nova moeda, o Cruzeiro (criada, afinal, apenas em 1942).
Já com Getúlio Vargas presidente da República, a Caixa foi extinta em 1930, quando seus objetivos fracassaram.




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