DÓLAR ATRASA AUMENTO
DA TAXA DE JUROS
Na qualidade de principal moeda de curso internacional, o dólar se
diferencia das demais moedas porque a dívida dos Estados Unidos é expressa em
dólar, que é moeda local. Por isso, toda a sua dívida pública é dívida interna,
e eles estão isentos de administrar uma dívida externa. Não obstante esse
valor, a dívida pública dos Estados Unidos, em relação ao seu PNB é,
proporcionalmente, das menores entre os países centrais.
Segundo o Tesouro norte-americano, o crescimento da dívida em poder
de terceiros cresceu exponencialmente desde 2007. Com isso, os Estados Unidos
se beneficiam de uma emissão marginal de moeda que gira nos mercados
internacionais, e raramente é apresentada nos balcões de empresas dentro do
território norte-americano. Estimativas
indicam que entre metade e dois terços das emissões da moeda dólar estão no
Exterior, para utilização em transações fora dos Estados Unidos, ou em cédulas armazenadas
por pessoas e empresas, como reserva de valor.
Esta característica única da moeda faz com que muitos economistas
entendam que os norte-americanos compram mercadorias estrangeiras praticamente
de graça, porque o Passivo representado pela moeda de pagamento deixa o país e
a ele não retorna.
Com esta situação, os Estados Unidos
exportam emissões de dólares para o resto do mundo, e não sentem o efeito
inflacionário desse aumento na quantidade M de moeda, porque os dólares
não retornam.
A
SITUAÇÃO ATUAL
Janet Yellen, a presidente do Fed, controla uma
economia de US$ 17 trilhões. Mario Draghi, o presidente do BCE, controla uma
economia de U$ 10 trilhões.
O dólar influencia mais de US$ 9 trilhões em
empréstimos referenciados em dólar, que ainda é a referência mundial no mercado
de moedas.
O juro básico do Fed, atualmente entre 0% e 0,25%,
pode subir para 0,5% a 0,75% até o fim do ano. Estes atrasos em tomar a decisão
significam que Janet Yellen espera que o crescimento econômico dê melhores sinais
de robustez. Como isso afetará a confiança? Como reagirão os investidores? Para
muitos, esta mudança é, como já foi no passado, um salto no escuro.
A economia dos Estados Unidos acusa bom desempenho,
e espera-se (já com atraso) que o Fed aumente sua taxa de juros, e isso pesa
cada vez mais no ato de carregar as variações de valor desse endividamento.
Metade daqueles empréstimos (US$ 4,5 trilhões) foi
feita nos países emergentes, seja em empréstimos seja em emissão de títulos.
Nesses países, como Brasil, Turquia ou África do Sul, o peso de carregar
dívidas em dólar começa a doer nas costas. Algumas empresas gigantes desses
países, como Gazprom, Petrobrás, Lodha, Eskom e Yasar, envolveram-se nessas
dívidas, pagando juros bem acima de 1,5% da taxa básica do dólar, e bem abaixo
do custo em suas moedas nacionais.
Ocorre que as receitas dessas gigantes, em dólar,
apresentam-se em baixa nesse último ano. Nos países onde a balança de
pagamentos está equilibrada, as coisas andam tranquilas. Mas alguns casos
exigem cautela. Um é o caso da China, que detém mais de US$ 1,2 trilhão de dólares
em estoque, e suas empresas acumulam desequilíbrio cambial, de forma muito
concentrada. Brasil e Rússia têm problemas com a estabilidade de suas moedas, a
Turquia e a África do Sul avançam pelo mesmo caminho.
Não há acenos de perigo numa eventual inadimplência
desses países, como houve na crise da dívida de 2008. Títulos e empréstimos
estão em poder de bancos e investidores institucionais capitalizados. Mas,
levaria as empresas emergentes a demissões em massa, a uma revisão rigorosa dos
riscos, e a um freio-de-arrumação violento no crédito.
O DÓLAR NO BRASIL
No Brasil, as relações Dívida/Capital
e Lucro/Juros continuam se
deteriorando, nos últimos meses, e mantêm-se na pior posição entre os países
emergentes, pior até do que as da Rússia, nosso competidor
mais próximo. Nosso dólar
apresenta-se inquieto, por causa das condições políticas desastrosas em que o
país se encontra. Expectativas do setor privado são depressivas, e o principal
partido do governo (PT) não aceita o ajuste fiscal do ministro da Fazenda.
Nesse contexto, a curva já previsível
de elevação gradual dos juros norte-americanos -- mesmo com timing suavizado -- já se
torna uma preocupação, sem dúvida, de classificação “grave”.
Como se não bastassem a situação política interna alarmante e
os riscos de desequilíbrio macroeconômico preocupante, tem-se, concretamente,
um cenário de risco de insolvência em empresas privadas de porte, do país, a
começar por algumas fornecedoras do sistema Petrobrás.
É uma tempestade ainda imperfeita, mas já, claramente, tempestade.
(Fonte dos dados, revista The Economist, reproduzida no jornal O Estado de São Paulo)
(Fonte dos dados, revista The Economist, reproduzida no jornal O Estado de São Paulo)
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