DUAS
LUTAS: GANHAR CREDIBILIDADE
E
REDUZIR A INFLAÇÃO
Chocado com a repercussão
internacional da desaceleração da economia chinesa, o Brasil amarga hoje sua
própria retração econômica, com os analistas confirmando expectativas de perda
no produto acima dos 2%, a inflação subindo para níveis superiores a 9%, sem
uma saída à vista, já que a correção dos ajustes fiscais exigida pelo governo
foi impedida pelos congressistas, que distorceram por completo as medidas propostas
pelo ministro da Fazenda.
Os principais analistas brasileiros
reconhecem a profundidade da crise brasileira, que soma recessão, desemprego,
incerteza e paralisia nos investimentos, numa equação ruinosa. Esta sensação se
cristalizou quando o governo reduziu a meta de superávit (de 1,1% do PIB para
0,15%), antecipando a certeza de fechamento do ano com déficit primário e
dificuldade para o pagamento da dívida pública federal, atualmente ao custo de
15% anuais sobre um estoque de R$ 2,6 trilhões.
O governo Dilma Rousseff se vê sem
alternativas para vencer os obstáculos da crise econômica, já que suas bases de
apoio político e social se recusam a aceitar até mesmo a correção dos
desajustes fiscais que seu mandato anterior causou. Os desacertos econômicos se
veem, assim, superados pela crise política, que torna o mandato da presidente
uma alternativa que perde viabilidade dia a dia.
O grupo político que se originou com
o ex-presidente Lula exauriu seu projeto de poder, engendrou uma matriz
econômica que se provou fracassada, seu esforço por um rearranjo econômico foi
completamente deformado pelo Congresso Nacional, e uma proposta de revisão
chamada Agenda Brasil pouco tem a ver com a recuperação da atividade econômica,
é apenas um placebo que mantém a ilusão de que as coisas podem ser corrigidas. O impasse político é, então, nosso principal
problema. E, sem dúvida, vai aumentar o custo social do ajuste econômico, mais
à frente.
AVARIAS
AGRAVAM EXPECTATIVAS
As avarias econômicas são por demais severas e apontam para consequências
mais sérias do que uma pequena redução no PIB nacional deste ano. A desorganização das
finanças públicas pesa muito na correção dos desajustes, que ainda exigem
muitas normas novas para que 2016 e 2017 sejam controláveis.
Nossas projeções para este difícil 2015, reunidas numa postagem de 29 de
março último, já registravam a expectativa de uma perda no produto de (-3%) a
(-4%), e uma inflação rodeando, implacável, a casa dos 11% a 12%. Nessa
estimativa, o PIB da indústria em nada colaborará para atenuar esta queda, e
deve apresentar uma perda ao redor dos (-4%) a (-5%).
Caos político à parte, a inflação surge como a principal variável a ser
corrigida no nosso sistema econômico, porque gerou pressões tão negativas que
será imperativo trazê-la de volta a uma situação estável, que reduza o custo
social que a desvalorização da moeda sempre causa – que a sociedade brasileira
já viveu nos anos 1980, e que não deseja viver de novo.
Combatendo a inflação, ainda assim a economia dificilmente recuperará uma
situação de estabilidade antes de um prazo de dois a três anos, porque os
governos do PT desarrumaram todo o sistema econômico. O custo social desse
combate será elevado, mas é essencial para evitar que cheguemos a uma recessão
insustentável. A evolução do produto será pobre, o emprego será mais escasso,
mas será o preço a pagar.
COMO CORRIGIR?
Nicola Calicchio Neto é o presidente
da consultoria McKinsey para a América Latina. Sua análise da situação atual do
Brasil parte de uma crítica muito rigorosa: “o Brasil jogou 50 anos no lixo”.
Motivo? Abandonou todos os esforços para atualizar a estrutura econômica, em
especial a capacidade produtiva dos trabalhadores.
Segundo ele, a produtividade do
trabalhador brasileiro evoluiu duas vezes nesses 50 anos, ao passo que o
trabalhador chinês evoluiu vinte vezes. “Há 50 anos o brasileiro produzia 10
vezes mais que o chinês, hoje é 1 para 1”.
Sua recomendação para tornar o
Brasil minimamente competitivo no cenário internacional passa por diversas
áreas de política econômica, que exigem uma revisão global na administração
pública do país. Segundo ele, o Brasil precisará, a começar no prazo mais curto
possível, adotar medidas nestes itens:
·
Reduzir a taxa de incerteza;
·
Iniciar de imediato rigorosa dieta nas contas públicas;
·
Melhorar muito qualificação da mão de obra.
·
Aumentar já a taxa de investimento;
·
Baixar significativamente a carga tributária;
·
Destruir as amarras que inviabilizam a iniciativa empresarial;
·
Simplificar a capacidade de inovar e de investir.
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