segunda-feira, 24 de agosto de 2015





DUAS LUTAS: GANHAR CREDIBILIDADE
E REDUZIR A INFLAÇÃO

Chocado com a repercussão internacional da desaceleração da economia chinesa, o Brasil amarga hoje sua própria retração econômica, com os analistas confirmando expectativas de perda no produto acima dos 2%, a inflação subindo para níveis superiores a 9%, sem uma saída à vista, já que a correção dos ajustes fiscais exigida pelo governo foi impedida pelos congressistas, que distorceram por completo as medidas propostas pelo ministro da Fazenda.
Os principais analistas brasileiros reconhecem a profundidade da crise brasileira, que soma recessão, desemprego, incerteza e paralisia nos investimentos, numa equação ruinosa. Esta sensação se cristalizou quando o governo reduziu a meta de superávit (de 1,1% do PIB para 0,15%), antecipando a certeza de fechamento do ano com déficit primário e dificuldade para o pagamento da dívida pública federal, atualmente ao custo de 15% anuais sobre um estoque de R$ 2,6 trilhões.
O governo Dilma Rousseff se vê sem alternativas para vencer os obstáculos da crise econômica, já que suas bases de apoio político e social se recusam a aceitar até mesmo a correção dos desajustes fiscais que seu mandato anterior causou. Os desacertos econômicos se veem, assim, superados pela crise política, que torna o mandato da presidente uma alternativa que perde viabilidade dia a dia.
O grupo político que se originou com o ex-presidente Lula exauriu seu projeto de poder, engendrou uma matriz econômica que se provou fracassada, seu esforço por um rearranjo econômico foi completamente deformado pelo Congresso Nacional, e uma proposta de revisão chamada Agenda Brasil pouco tem a ver com a recuperação da atividade econômica, é apenas um placebo que mantém a ilusão de que as coisas podem ser corrigidas. O impasse político é, então, nosso principal problema. E, sem dúvida, vai aumentar o custo social do ajuste econômico, mais à frente.

AVARIAS AGRAVAM EXPECTATIVAS
As avarias econômicas são por demais severas e apontam para consequências mais sérias do que uma pequena redução no PIB nacional deste ano. A desorganização das finanças públicas pesa muito na correção dos desajustes, que ainda exigem muitas normas novas para que 2016 e 2017 sejam controláveis.
Nossas projeções para este difícil 2015, reunidas numa postagem de 29 de março último, já registravam a expectativa de uma perda no produto de (-3%) a (-4%), e uma inflação rodeando, implacável, a casa dos 11% a 12%. Nessa estimativa, o PIB da indústria em nada colaborará para atenuar esta queda, e deve apresentar uma perda ao redor dos (-4%) a (-5%).
Caos político à parte, a inflação surge como a principal variável a ser corrigida no nosso sistema econômico, porque gerou pressões tão negativas que será imperativo trazê-la de volta a uma situação estável, que reduza o custo social que a desvalorização da moeda sempre causa – que a sociedade brasileira já viveu nos anos 1980, e que não deseja viver de novo.
Combatendo a inflação, ainda assim a economia dificilmente recuperará uma situação de estabilidade antes de um prazo de dois a três anos, porque os governos do PT desarrumaram todo o sistema econômico. O custo social desse combate será elevado, mas é essencial para evitar que cheguemos a uma recessão insustentável. A evolução do produto será pobre, o emprego será mais escasso, mas será o preço a pagar.

COMO CORRIGIR?
Nicola Calicchio Neto é o presidente da consultoria McKinsey para a América Latina. Sua análise da situação atual do Brasil parte de uma crítica muito rigorosa: “o Brasil jogou 50 anos no lixo”. Motivo? Abandonou todos os esforços para atualizar a estrutura econômica, em especial a capacidade produtiva dos trabalhadores.
Segundo ele, a produtividade do trabalhador brasileiro evoluiu duas vezes nesses 50 anos, ao passo que o trabalhador chinês evoluiu vinte vezes. “Há 50 anos o brasileiro produzia 10 vezes mais que o chinês, hoje é 1 para 1”.
Sua recomendação para tornar o Brasil minimamente competitivo no cenário internacional passa por diversas áreas de política econômica, que exigem uma revisão global na administração pública do país. Segundo ele, o Brasil precisará, a começar no prazo mais curto possível, adotar medidas nestes itens:
·        Reduzir a taxa de incerteza;
·        Iniciar de imediato rigorosa dieta nas contas públicas;
·        Melhorar muito qualificação da mão de obra.
·        Aumentar já a taxa de investimento;
·        Baixar significativamente a carga tributária;
·        Destruir as amarras que inviabilizam a iniciativa empresarial;
·        Simplificar a capacidade de inovar e de investir.
         

Nenhum comentário:

Postar um comentário