segunda-feira, 11 de maio de 2015






Inflação petista
acumulada supera os 100%

A inflação brasileira dos governos petistas ultrapassa agora os 100%, e neste primeiro quadrimestre já superou a inflação-meta de 4,5% do ano de 2015, causando danos à produção, ao consumo e ao emprego. E ainda faltam oito meses para o final do ano.
Com isso o Brasil se firma como um dos países mais tolerantes à inflação persistente, com um desempenho destacado entre os 26 países que adotam o regime de metas para a inflação, componente incômoda deste custo-Brasil, que parece não querer nos abandonar.
Em abril, a inflação arrefeceu pela primeira vez no ano, ficando abaixo de 1%, e projeta – até agora – encerrar o ano na casa dos 8,17%. Não obstante, como a economia apresenta um quadro de repasse da inflação no atacado (que já ocorreu na virada do ano e em janeiro) em direção aos preços ao consumidor, as projeções indicam a realimentação da inflação, agora pressionada também pelas contas externas.
Com 90% de segurança estatística, antevemos que a inflação oficial será maior que essa projetada agora, e rondará a casa dos 9% anuais, que é uma média apurada pelos analistas do Banco Central, indicando que pelo menos um ou mais de um deles se aproximou dos 10% de inflação no período.
Mas o setor oficial, como se sabe, precisa ser otimista. Reconhece a realidade num processo passo-a-passo.
Nós não. Por isso mantemos nossas projeções iniciais (divulgadas em fevereiro) de um IPCA na faixa de 10% a 12%, aproximando-se mais dessa última taxa, especialmente quando o governo norte-americano elevar sua prime rate, fato sempre adiado nos últimos meses.
Enquanto isso, alguns analistas financeiros reconhecidos entre os mais influentes já projetam, sem escrever nos relatórios a clientes, que eles devem preparar-se para taxas ao redor dos 13,5% até 15% de inflação, especialmente porque dão peso elevado à confusão política que agride o governo da presidente Dilma Rousseff e dificulta muito a correção dos desajustes fiscais.
Esse conjunto de fatores leva, desde já, todo o mercado a esperar, ainda neste semestre, que o Copom eleve novamente a taxa de juros Selic, certamente uma vez, provavelmente duas vezes, apontando para algo como 14% ao ano em julho.




terça-feira, 5 de maio de 2015




PARA ENTENDER A COMPLEXA
DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL BRASILEIRA

O planejamento estratégico da dívida pública federal brasileira é complexo. Parte-se de objetivos gerais, de médio e longo prazos -- o que a alta administração da Fazenda Nacional tem como parâmetros desejáveis (MF/STN/BACEN) de vir a ser alcançados, ou sejam:
·       Composição estrutural, por natureza dos títulos e prazos de vencimento;
·   Estratégia de transição, até que se aproxime, efetivamente, o suficiente das metas estabelecidas.
Há, também, que serem estruturados, divulgados, executados e acompanhados, a curto prazo, os chamados Planos Anuais de Financiamento (PAF) desse estoque de dívida, em evolução contínua – o primeiro deles tendo sido elaborado em 2001.
 As diretrizes gerais que norteiam os PAFs estão claramente estabelecidas em documento técnico da Secretaria do Tesouro Nacional [1]  que, levando em conta o desejável controle de custo e risco, na rolagem da dívida, bem como a firme intenção de promover o desenvolvimento saudável de nosso mercado de capitais (exemplo: melhorar a liquidez do mercado secundário de títulos públicos, no país), apresenta o seguinte elenco de ações executivas consistentes:  
·         Aumento do prazo médio do seu estoque;
·         Suavização da estrutura de vencimentos, com especial atenção para a dívida que vence no curto prazo;
·         Substituição gradual dos títulos remunerados pela taxa de juros SELIC por títulos com rentabilidade pré-fixada ou vinculada a índices de preços;
·         Aperfeiçoamento do perfil da Dívida Pública Federal externa, por meio de emissões de títulos com prazos de referência (benchmarks), programa de resgate antecipado e operações estruturadas;
·         Desenvolvimento da estrutura a termo de taxas de juros nos mercados interno e externo e o aumento da liquidez dos títulos públicos federais no mercado secundário; e
·         Ampliação da base de investidores.
Com base nas Tabelas I e II, que elaboramos, pode-se, justamente, observar o como essa estratégia e táticas correspondentes são complexas para serem postas em prática, ao longo do tempo.  
A Tabela I apresenta a composição considerada desejável, pelas autoridades maiores da Fazenda nacional, a longo prazo, conforme avaliada em 2011. Já representa, na verdade, um mix do que ‘se quer’ com o que ‘se pode’ conseguir, levando-se em conta a soberania efetiva maior de todas – a do mercado financeiro, nacional/internacional.

Composição-meta da DPF

Referencial de longo prazo da STN, posição 2011

(Composição ótima da DPF no longo prazo)


Tabela I
(Fonte: STN)
Títulos
Limite inferior
Limite superior
Prefixados
40%
50%
Atrelados a índices de preços
30%
35%
Com taxas de juros flutuantes
10%
20%
Atrelados à taxa cambial
5%
10%

A Tabela II, em síntese, mostra, de forma destacada, que é viável, sim, mas não fácil, nos aproximarmos o bastante das metas estabelecidas, a uma velocidade relevante. Nos títulos prefixados e nos atrelados a índices de preços (cuja participação relativa desejamos aumentar), idealmente nessa ordem, ficamos, em 2013 para os pós-fixados e em 2014 para os prefixados, mais perto dos limites inferiores dos intervalos-metas.
E, de forma compatível: em 2014, em que a inflação, na margem, foi se acelerando (segundo semestre, sobretudo), com relação ao ano anterior, registramos alguma queda na parcela referente aos prefixados e um aumento correspondente na dos pós-fixados.

Estoque da DPF em mercado

R$ bilhões

PAF
 2014
dez/13
     2.122,8

Mínimo
     2.170,0
dez/14
     2.295,9

Máximo
     2.320,0

Evolução dos principais indicadores da DPF





PAF
2014
Títulos
dez/13
dez/14

dez/13
dez/14
Prefixados
42%
42%
40%
44%
Atrelados a índices de preços
35%
35%
33%
37%
Com taxas de juros flutuantes
19%
19%
14%
19%
Atrelados à taxa cambial
4%
5%
3%
5%
Prazo médio (anos)
4,20
4,40
4,30
4,50
Vincendo em 12 meses
24,80%
24%
21%
25%

Já nos títulos vinculados à SELIC, por exemplo (que nos dificultam a sintonia fina, de curtíssimo prazo macroeconômico, na gestão da política monetária) e nos atrelados à taxa de câmbio (de maior risco, porque não temos uma moeda conversível), a Tabela II mostra que, apesar de alcançados os objetivos do PAF, em 2014, mantivemo-nos colados, praticamente, aos respectivos limites superiores das metas de pesos relativos na DPF.
Por outro lado, no que se refere ao volume relativo de títulos públicos federais com pressão de rolagem (vincendos num prazo de até 12 meses), pode-se constatar quão difícil é administrar este indicador.
Tanto em 2013 quanto em 2014, ficamos muito próximos ao limite superior dessa meta (que já apresentava esse mesmo intervalo desejável, de 21% a 25%, desde 2011).
Pior, ainda: em 2010, a parcela correspondente a esses vencimentos curtos foi de 23,9% (contra os 24,8% e 24%, registrados no fechamento do penúltimo e último anos, respectivamente).
O Plano Collor I (março, 1990) e a moratória da dívida externa brasileira (fevereiro, 1987) deixaram longa memória!


[1] (Composição Ótima da Dívida Pública Federal: Definição de Uma Referência de Longo Prazo)